Edição 274 da Revista que tem circulação nacional trás matéria de duas páginas com entrevista sobre o trabalho do Ministério Conexão ide no Sertão Nordestino. Além do formato físico o site da Publicação também disponibiliza o conteúdo. Confira.
Missões no semiárido
Fundador do Conexão Ide destaca os desafios e a necessidade de alcançar o povo sertanejo com o Evangelho
Por Patrícia Scott
Há 15 anos, o ministério Conexão Ide atua no semiárido nordestino, realizando atividades evangelísticas e de cunho social. Fundado pelo pastor paraibano Jader Medeiros, 36 anos, a organização tem alcançado milhares de pessoas em cidades e vilarejos remotos do sertão. Além da pregação do Evangelho e a plantação de igrejas, esse grupo tem agraciado algumas dessas comunidades com a perfuração de poços e outras ações que visam minimizar o sofrimento do povo.
Segundo o pregador, que lidera a Igreja Batista do Amparo (PB), a água é a fonte de toda riqueza na região agreste, como em qualquer lugar do mundo. “Levá-la ao sertanejo significa esperança, vida e dignidade. Não é difícil perfurar e instalar um poço artesiano para ajudar dezenas e, às vezes, centenas de famílias com apenas uma ação”, informa o líder, casado com Chélly e pai de dois filhos, Maria Helena e Samuel.
Ele afirma que o desafio é grande: o baixo nível de instrução escolar nos locais mais isolados dessa parte do Brasil favorece o domínio político que escraviza a população, a qual carrega uma herança culturalmente coronelista. “O sertão é estigmatizado como uma região resistente e pouco produtiva, o que não é verdade. O povo é trabalhador e esforçado. Precisamos orar para Deus quebrar os grilhões da mente e, a partir do Evangelho, haver mudança na sociedade sertaneja”, conclama Jader, que, nesta entrevista à Graça/Show da Fé, conta como surgiu o Conexão Ide e fala do trabalho desse ministério nos rincões do Nordeste.
Como o senhor se tornou missionário entre os sertanejos?
Aos 16 anos, tomei conhecimento, a partir de dados de agências missionárias, da existência de 14 cidades da Paraíba que tinham menos de 1% de evangélicos. Sempre fui muito envolvido com a evangelização na igreja, e aqueles números me incomodaram. Pensei: E se doássemos nossas férias para evangelizar essas cidades no sertão? Formei uma equipe com mais quatro jovens da igreja, e fomos a todas aquelas cidades, evangelizando nas praças e escolas, com peças de teatro, músicas evangelísticas e a pregação da Palavra. O amor pelo sertão foi inevitável. Quando alguém o conhece, duas coisas acontecem: ou a pessoa não volta ou jamais conseguirá esquecê-lo. Cinco anos depois, o Conexão Ide já estava fundado. Partimos da capital para plantar nossa primeira igreja no sertão.
De que maneira atua o Conexão Ide?
O principal foco é a evangelização em comunidades rurais isoladas ou de difícil acesso, com pouca ou nenhuma presença evangélica. Atuamos com socorro social e ações missionárias. Temos alguns projetos, entre eles: o Água da Vida, que envolve a perfuração de poços artesianos para amenizar os efeitos da seca; o Pão da Vida (doações de cestas básicas); o CinePipoca na Rua (evangelização por meio de exibição gratuita de filmes em telão instalado em espaços públicos) e a Escolinha Cristã de Futebol e a Escolinha Bíblica (com uniformes, lanche nutritivo e material didático). Além disso, plantamos igrejas e, atualmente, mantemos cinco casais de missionários. Ao todo, mais de 1.530 famílias são beneficiadas diretamente por esses projetos.
Quais são as reais necessidades dos sertanejos?
Do ponto de vista material, o básico: roupas, alimentos, calçados e emprego. Os projetos de geração de renda também são muito bem-vindos nas comunidades rurais. O sertanejo é trabalhador e sabe o que fazer para ganhar dinheiro, quando há chuva. Mas, na seca, os auxílios governamentais são quase sempre a única renda da maioria. Do ponto de vista espiritual, é renunciar a costumes infrutíferos e religiosos que os impedem de viver o caminho da Verdade e da vida, que é Jesus.
E quais são os principais desafios do Conexão Ide?
Temos poucos recursos financeiros para tocar os projetos, e é preciso encontrar igrejas dispostas a enviar ou manter missionários. Enfrentamos também escassez de obreiros preparados e com disposição. Há, ainda, a resistência religiosa das pessoas, muitas delas envolvidas com o alcoolismo, que é fruto do sedentarismo, em um ambiente de desemprego e falta de políticas públicas ocupacionais.
Como o Conexão Ide atua em relação às tradições religiosas das comunidades sertanejas?
Nós nos aproximamos dessas pessoas com o interesse genuíno de criar laços de amizade e de confiança. Assim, revelamos o caráter de Cristo, que contrasta com a religiosidade vazia. Além disso, levamos a eles o conhecimento da Verdade que liberta, conforme João 8.32: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
Quais são as principais ferramentas de evangelização utilizadas pelo ministério?
Além do evangelismo por meio da comunhão cristã, o rádio tem sido um ótimo parceiro. Muitos sítios e povoados isolados são alcançados por esse meio. A internet também é uma grande aliada, com a postagem de vídeos e de mensagens evangelísticas. Fazemos ainda a exposição [pregação] pública das Sagradas Escrituras.
Fala-se muito em missões transculturais, mas o interior do Brasil é pouco lembrado quando se trata desse assunto. Por quê?
As igrejas sertanejas, que não estão em cidades grandes, tendem a ser dependentes de ajuda financeira externa para se manterem abertas. Isso pode explicar, em parte, o pouco interesse de algumas igrejas pela região. Por outro lado, existe certo glamour em realizar missões em países africanos, por exemplo. No entanto, muito do que se chama “transcultural” pode ser encontrado no sertão. Sou paraibano e, mesmo assim, sofri para me adaptar à cultura do sertão (sotaque, comidas típicas, música). É bastante diferente. O sertão é, em alguns aspectos, a África brasileira. Não podemos continuar ignorando a urgência de alcançar esse povo acolhedor e querido.
Como a Igreja pode contribuir para a evangelização no sertão?
Pode investir na formação de novos líderes, que sejam convertidos; enviar missionários e mantê-los, além de apoiar os que estão no campo. Plantar igrejas no sertão, em vez de abrir mais uma congregação nos grandes centros; investir em projetos já existentes, para que possam ser ampliados; realizar avanços missionários de impacto social e evangelístico em cidades pouco evangelizadas; promover conferências com a participação de missionários que estão na linha de frente, a fim de transmitir suas experiências, edificar e encorajar a igreja.
Jader Medeiros
Pastor e fundador do Conexão Ide
Fonte: https://www.revistashowdafe.com.br/reportagens/entrevista-274/